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“UNIDADES DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICOS SALVAM VIDAS,

 

MAS CONTINUAM SENDO OS LUGARES MAIS ESTIGMATIZADOS DA MEDICINA; com os gestores e a mídia em geral evocando somente imagens assustadoras, deslocadas propositadamente do contexto original, mostram pacientes amarrados, “choques” e “abandono social”... Esses estereótipos são prejudiciais e elas continuam a ser escondidas nos hospitais, isoladas e que a maioria de pacientes e profissionais tenta evitar. OS MILHARES DE PACIENTES QUE MELHORAM NAS UNIDADES DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS NÃO ATRAEM MANCHETES COMO OS ESCÂNDALOS OU FILMES DE TERROR QUE FAZEM SOBRE ELES!

 

Pacientes, amigos e profissionais da saúde conversam abertamente sobre internações em emergência clínicas, sobre internações para cirurgias, mas quando o assunto é sobre internações Psiquiátricas ninguém fala nada; talvez até porque filmes exploram estas Unidades como estágios de horror estigmatizando o tratamento tão necessário para os doentes mentais graves.

OS DOENTES MENTAIS SIMPLESMENTE NÃO ATRAEM A ATENÇÃO DO GOVERNO E DA SOCIEDADE, QUE NÃO DÁ A DEVIDA ATENÇÃO PARA A NECESSIDADE DE TRATAMENTO DESTAS PESSOAS, EXCETO QUANDO ELES COMETEM ALGUM DESATINO, CRIMES OU ASSASSINATOS!

 

Apesar do crescimento avassalador de casos graves sem tratamento adequado e de doentes mentais presos, as Unidades Públicas de Internações Psiquiátricas estão em declínio acentuado e desordenado nos Estados Unidos: 153.517 em 1991 e 67.707 em 2014.

 

O RESULTADO DO FECHAMENTO INDISCRIMINADO DE LEITOS PSIQUIÁTRICOS É UM NUMERO ASSUSTADOR E INCONTÁVEL DE PACIENTES DEFINHANDO NAS EMERGÊNCIAS, NAS RUAS OU PRESOS, INCAPAZES DE OBTER O TRATAMENTO QUE PRECISAM.

A desinstitucionalização tentou mudar o tratamento dos doentes mentais, “por decreto”, para serviços comunitários, desconsiderando que muitos pacientes precisam de internações em Unidades psiquiátricas especializadas devido à gravidade de seus quadros.

 

A SAÚDE MENTAL SEMPRE TEVE VERBAS BAIXÍSSIMAS, O QUE DESENCORAJOU A MANUTENÇÃO, MELHORIA E MODERNIZAÇÃO DAS UNIDADES DAS INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS EXISTENTES, MOTIVANDO SEU FECHAMENTO EM MASSA; E TAMBÉM BLOQUEOU A CONSTRUÇÃO DE NOVAS UNIDADES.

 

Orçamentos apertados levaram ao “simples corte de custos”, através do fechamento das Unidades de Internações Psiquiátricas, independente da necessidade dos doentes mentais!

 

PARA JUSTIFICAR OS CORTES DE INVESTIMENTOS PASSARAM A MOSTRAR AS UNIDADES PSIQUIÁTRICAS COMO ALGO RUIM; ESCONDEM DA POPULAÇÃO QUE ESTAS UNIDADES SALVAM VIDAS! QUE SÃO NECESSÁRIAS, E FUNDAMENTAIS, PARA AJUDAR OS DOENTES MENTAIS A RESOLVER PROBLEMAS E SE TRATAR CORRETAMENTE!

 

As Unidades de Internações Psiquiátricas Especializadas são onde os pacientes colocam suas vidas de volta à normalidade, pegando os pedaços rasgados por doenças como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, dependência química, etc..

Médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e demais profissionais da saúde trabalham para tratar os doentes, orientando e ajudando os pacientes para fora do abismo.

 

As famílias muitas vezes se conciliam com os entes queridos e os pacientes podem encontrar esperança uns nos outros, abrindo em grupos, compartilhando refeições, descobrindo o conforto de experiências compartilhadas.

APESAR DAS CRENÇAS PÚBLICAS DE QUE ESTAS UNIDADES DE INTERNAÇÕES ESTARIAM BLOQUEANDO AS PESSOAS, MUITOS PACIENTES PROCURAM INTERNAÇÕES NOS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS, AINDA EM FUNCIONAMENTO, DE FORMA VOLUNTÁRIA, MAS A GRANDE MAIORIA NÃO CONSEGUE O TRATAMENTO QUE PRECISAM.

 

As internações duram o tempo necessário para estabilizar os doentes, conversas sobre se tomar medicamentos e manter o tratamento depois que saírem dos Hospitais são constantes. Os pacientes passam por exames físicos, psíquicos e laboratoriais; controles de sinais vitais e observação de sua evolução, até a melhora do quadro inicial que motivou a internação, assim como em qualquer outro quadro clínico/cirúrgico realizado em outros hospitais.

Realmente, há momentos de tensão e conflito; aqueles em que os pacientes entorpecem em suas psicoses; gritam nas portas trancadas; jogam cadeiras; se agridem ou agridem terceiros; se prejudicam ou ameaçam membros da equipe. De fato, há momentos em que o medo floresce; mas a experiência comprova que estes flashes de turbulência tendem a diminuir com o avanço do tratamento.

 

SUPERAR O ESTIGMA CONTRA AS UNIDADES PSIQUIÁTRICAS NÃO SERÁ FÁCIL. É NECESSÁRIO FAMILIARIZAR O PÚBLICO QUE A INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA É UM TRATAMENTO NECESSÁRIO EM CASOS GRAVES de ESQUIZOFRENIAS, de TRANSTORNOS BIPOLARES, QUADROS PSICÓTICOS, de TENTATIVAS DE SUICÍDIOS, DEPRESSÃOS GRAVES e de DEPENDECIA QUIMICA. Estes casos DEMANDAM CUIDADOS INTENSOS E ININTERRUPTOS e AS UNIDADES DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS ESPECIALIZADAS SÃO OS LOCAIS DE TRATAMENTO CORRETO, DE ESTABILIZAÇÃO, DE ORIENTAÇÃO E DE CURA DESTES DOENTES MENTAIS.

 

Algumas reuniões e terapias durante as internações são cheias de lágrimas e algumas cheias de risos e esperança; às vezes pacientes dançam com enfermeiras, sorrindo pela primeira vez em semanas; usam instrumentos musicais e de outras terapias para levantar o espíritos; alguns criam obras de arte que depois passaram a ser expostas até em museus.

As pessoas precisam ver além do estigma, precisam ver o bem que pode ser feito para os doentes mentais nas Unidades de Internações Psiquiátricas.

 

Reconhecer serviços ruins e possíveis abusos é dever de todos, mas para corrigi-los e não simplesmente abolir o tratamento necessário; temos que inspirar um melhor tratamento para o futuro. Ao aprender com os erros as futuras gerações podem dar o tipo de tratamento que nossos pacientes necessitam e merecem.

 

O Hospital Psiquiátrico de Boston enfrentou uma encruzilhada no início dos anos 2000; seu prédio estava desatualizado, com ladrilhos desgastados e com exposição da parede em alguns locais; pisos desgastados; aquecedores enferrujados; enfim o edifício era uma relíquia do século XX. Em 2003 o prédio foi fechado e derrubado, mas a o Hospital se mudou para novas e modernas instalações, onde os pacientes recebem atendimento e até hoje e é onde os médicos e outros profissionais aprendem a realmente tratar pacientes psiquiátricos.

 

Quando se trata de doenças mentais, todos nós fazemos escolhas; podemos continuar estigmatizando os doentes; podemos continuar a não conhecer e ter medo das Unidades de Internações Psiquiátricas e mentir dizendo que não são necessárias; podemos gritar contra os asilos e deixar os doentes sem os tratamentos necessários; podemos “dar de ombros” com o declínio dos serviços de saúde mental e deixar o financiamento cair ainda mais; podemos ignorar a situação de milhões de doentes mentais que estão nas ruas e nas cadeias; ou podemos decidir aprender mais e perguntar o que pode ser feito para diminuir o desespero, o tormento e o sofrimento destes doentes que acabam por ficar sozinhos (isolados pela própria doença).

 

Temos que trabalhar em conjunto para um melhor tratamento para esses pacientes, para garantir dias cheios de poesia e flores, em vez de cadeias e negligência, como a que estamos presenciando nestes últimos 50 anos!”

 

Excelente texto. Contribuição do Dr. Carlos Eduardo Kerbeg Zacharias

Versão / Resumo de artigo publico pelo Jornal THE WASHINGOTN POST / USA em 23/07/2017."

 

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