Em alguns momentos, pode parecer um prédio residencial qualquer. Há camas, armários, geladeiras, micro-ondas e pessoas que ali dormem, fazem refeições, jogam baralho, recebem cartas. A qualquer momento, porém, alguém pode aparecer e exigir um teste de urina do morador para detectar eventual uso de drogas. E, para viver ali, esse residente tem que assinar um contrato com compromissos como: não traficar, não praticar violência, não portar armas. Localizada em um prédio na rua Helvétia, em Campos Elíseos (região central de SP), a residência monitorada recebe dependentes de droga em tratamento pelo programa Recomeço, do governo paulista. A ideia é que fiquem ali pessoas que, no mínimo, tenham a abstinência como meta (elas fazem testes-surpresa semanais) e que precisem de um acompanhamento clínico mais próximo por ter quadro de saúde de gravidade média a alta, explica o psiquiatra Cláudio Jerônimo da Silva, que dirige o serviço. Após 11 meses de funcionamento, um balanço inédito mostra que, dos 69 residentes que estão ou passaram por lá, 51% permanecem ali ou foram reinseridos socialmente, ou seja, moram em outro lugar e se sustentam por si; os outros 49% não seguiram até o fim. Dentro desse segundo grupo, cerca de metade ainda segue algum outro tipo de tratamento voluntário, por exemplo em comunidades terapêuticas, e outro grupo ainda recebe atendimento ambulatorial.