Alcoolismo e Habilidades Sociais
Embora a diferença observada entre os escores médios em relação ao gênero não tenha apresentado significância estatística [U(26) = 34,00; p = 0,228], verificou-se uma tendência quanto à presença de maiores déficits nas habilidades sociais entre as mulheres.
Adicionalmente, a análise dos escores fatoriais do IHS (ver Tabela 1) sugere um padrão distinto de dificuldades de desempenho social para homens e mulheres. Quando os dados normativos do IHS são considerados, o escore total verificado entre as mulheres sugere a necessidade de Treinamento em Habilidades Sociais, pois se situa abaixo do percentil 25.
Tabela 1 - Escores médios dos fatores do IHS por gênero
Nota: Participantes do gênero masculino (n=21) e do gênero feminino (n=5)
Em relação ao gênero feminino, observa-se que os escores apresentados nos fatores 2 (auto-afirmação de sentimento positivo) e 3 (conversação e desenvoltura social) indicam a necessidade de Treinamento em Habilidades Sociais, visto que os escores normativos referentes ao percentil 25 para mulheres nesses fatores são, respectivamente, 8,19 e 5,81. Nos demais fatores, embora os escores estejam abaixo da média, não há indicação de Treinamento em Habilidades Sociais. No entanto, entre os participantes do gênero masculino, dificuldades significativas em habilidades sociais foram identificadas apenas no Fator 3, dado que o escore médio obtido pelos participantes coincide ao percentil 25, sugerindo necessidade de Treinamento em Habilidades Sociais. Escores abaixo da média foram verificados nos fatores 1, 4 e 5, mas em nenhum desses fatores os escores situaram-se abaixo do percentil 25. Já o escore obtido no Fator 2 sugere que os homens investigados neste estudo possuem auto-afirmação na expressão de sentimento positivo em níveis satisfatórios.
As expectativas sobre os efeitos globais positivos e facilitadores das interações sociais no decurso do consumo de álcool foram avaliadas através do cálculo do Fator 1 do IECPA. Na Tabela 2, estão apresentados aqueles itens do Fator 1 que foram pontuados com escores elevados (4 ou 5) por mais de 80% dos participantes.
A análise destes itens sugere a presença de crenças permissivas em relação aos efeitos positivos do uso do álcool. Para os pacientes investigados neste estudo, a ingestão etílica é vista como um facilitador no desempenho social. Os efeitos positivos percebidos pelos pacientes incluem: ousadia, coragem, desinibição, confiança, humor elevado, descontração, sociabilidade, tendência a falar e a fazer confidências, bem como melhora na comunicação interpessoal. Pessoas com déficits em habilidades sociais podem utilizar o álcool como forma de enfrentar tais situações, pois possuem crenças e expectativas de que o consumo etílico beneficie sua capacidade de interagir socialmente e reduza a tensão experienciada em situações sociais (Furtado et al., 2003).